quinta-feira, 24 de abril de 2014

Cancelado

Quer cancelar? Então tá. Cancelado.

Pã.

Meu mundo caiu. Não sou tão especial como eu sempre acreditei.

Explico-me. Meu cartão de crédito. Sua fatura. Meu cristo. Milhões de vezes de vinte milhões de reais.

Um dinheiro que dá uns 3 ou 4 livros, uma meia dúzia de fardo de cervejas. Um dinheiro que não tá rolando de dar pro Itaú, sabe.

Então eu liguei pra cancelar. Por qual motivo senhor? A anuidade. Não quero mais pagar. Vieram os argumentos.

É a taxa de manutenção do prestígio e do privilégio. Ah pro escambau. Meu cu, sabe. Apelei. Então. Estou seguindo uma nova religião, me desfazendo de bens materiais e investindo na minha riqueza espiritual.

Foi bom que o senhor tocou nesse assunto porque o cartão pode servir para um momento de necessidade. Por exemplo, uma geladeira é uma necessidade hoje?

Hahahahaha

Até onde eu sei tá tudo bem com a minha geladeira. E mudar de casa é uma questão adiada por tempo indeterminado. O jeito é ficar na casa dos meus pais. Sufocando o sonho do gato próprio.

Não. Eu não penso em comprar uma geladeira tão já. E fiquei esperando que ele fosse "consultar o surpevisor" e falar que me daria 25%, 50%, 75% de desconto até me presentear com a aniquilação da anuidade.

Mas não. Igual a você eu já tracei mais de cem. E foi assim que meu cartão de crédito internacional foi cancelado. Sem choro nem vela. Sem pedidos de joelho para que eu ficasse com ele.

Na hora eu mantive a firmeza, mas quis chorar ao ver meus projetos se despedaçando. Minhas compras na Amazon no segundo semestre ou quando o dólar abaixar foram postergadas.

E tudo que eu desejo são uns brinquedos, uns livros, uns jogos. Coisas bem distantes de uma geladeira. Mas pra isso eu preciso guardar o dinheiro que eu pagaria em anuidade.

Apesar do choque inicial, o saldo final foi positivo. Desde ontem eu sou uma pessoa que tem limitadas suas opções de gastos ou investimentos em supérfluos de primeira necessidade.

Um dos objetivos desse ano é economizar e, se a gente não está falhando miseravelmente, não estamos um verdadeiro prodígio nessa arte.

De repente já estamos no meio do ano e precisamos intensificar esses objetivos pra fazer valer.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Arrasa B.

Faz tempo que o Sheik não anda benquisto pela torcida do Corinthians. Provavelmente desde o episódio em que ele publicou em seu Instagram um foto de um selinho num amigo, o empresário Isaac Azar, dono do Paris 6.

Eu simpatizo com o Sheik muito antes desse episódio. Desde o Carnaval do ano passado quando ele foi curtir os desfiles no camarote Brahma.

Na foto que me chegou pela AgNews ele foi uma das poucas celebridades presentes no local que parecia espontâneo. Acho que dá pra dizer que ele é autêntico.

Desde a recepção nada calorosa à foto do beijo, Sheik tem murchado. Seu desempenho em campo parece ter caído. Não sou um grande acompanhador de futebol, mas acabei de ler que desde julho ele não faz um gol.

Apesar de ofensas e ameaças e grosserias da torcida no campo ele tem se mantido digno e honrado. Sua postura é a do mais puro respeito. Não sei com que forças ele não tem caído em provocações.

Sheik agora é do Botafogo. Ontem ele postou uma foto no Instagram com o sorriso mais triste no rosto. O sorriso da despedida.

Aquele sorriso que a gente tenta dar como que para nos dizer "vai ficar tudo bem", mesmo sentindo que não vai. Calma cara. Tenta aproveitar o frio na barriga.

Não há de ser de todo ruim. Às vezes, Sheik, uma porta se fecha e uma janela se abre. Boa sorte nessa nova fase, boa sorte nessa nova vida.

Esses gestos, de carinho com um amigo e de respeito com seu público é algo raro de se ver e está muito além de um campeonato, uma taça ou uma partida de futebol.

Eles ainda não sabem, mas nada disso importa muito na real. Não é isso que fica no final das contas. O exemplo tá registrado. Obrigado!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O novo tempo que começou

Vamos começar com o maior dos clichês que a gente aprendeu ao longo dessa vida: a felicidade está nas pequenas coisas. E vamos para uma sensação que vem crescendo com o passar dos dias que é: parece que sempre vai existir um tempo no presente que a gente vê que lá atrás a gente era feliz e não sabia.

Explico. Quando eu tava sei lá na sexta série, o professor de religião passou uma tarefa. Marcar numa tabela o que a gente fazia durante o dia, por uma semana. Da hora que acordava até a hora de dormir. Naquele tempo meus dias se dividiam em: escola de manhã e casa a tarde.

E eu costumava passar as tardes fazendo 3 coisas: fazer lição de casa (que nunca era pouca), brincar (de bonecos) e ver televisão. Essas atividades não eram necessariamente simultâneas ou nessa ordem, mas às vezes também poderiam ser.

O curioso disso é que naquela semana talvez eu tivess pouco dever de casa. E na minha tabelinha constou que eu assistia 6 horas de TV por dia. Fiquei tão assustado com meu próprio resultado que na outra semana eu segui com o experimento e as horas passadas em frente à TV foram menores. Alívio.

Uma das coisas que eu mais gostava de assistir nessa fase da minha vida, além da trasheira da programação vespertina toda eram os filmes do Cinema em Casa e da Sessão da Tarde. Só fui me dar conta disso depois de mais grandinho quando cresci e virei mulher e entrei no Senai para fazer o técnico em Telecomunicações.

Foi a partir do momento em que eu perdi minhas tardes ociosas que eu passei a definir felicidade como uma coisa simples, básica e banal, que você nem se dá conta de que está ali na sua frente. E a Sessão da Tarde faz parte desse conceito. Sossego é ter o luxo de tirar um soneca no final da tarde enquanto passa "A Lagoa Azul", "Ghost", "3 Ninjas", sei lá.

Trabalho, estudo, obrigações, carreira, emprego, dinheiro, sucesso, tudo isso se enquadra naquela máxima do John Lennon de que vida é o que acontece enquanto estamos ocupados fazendo planos e daí a gente leva um tiro e morre.

O problema disso agora é que a Globo resolveu acabar com uma das minhas certezas mais absolutas sobre a vida trocando a Sessão da Tarde com o Vale a Pena Ver de Novo. É o fim dos tempos, do novo tempo que começou. A princípio eu não sabia o que achar sobre essa mudança. Achei que seria positivo, principalmente com a rotina que eu estava levando.



Por exemplo, antes dessa total inversão de valores da sociedade eu acompanhei a parte final de "O Cravo e a Rosa" porque a exibição coincidia com o horário que eu estava na academia me matando na esteira pra tentar emagrecer, ganhar resistência e condicionamento físico e ter uma vida saudável. E esta era uma novela incrível, leve, divertida e engraçada.

No lugar de "O Cravo..." colocaram "Cara e Bocas", que é uma novelinha beeeeeeem meia boca. Num primeiro momento fiquei ressabiado, mas falei comigo mesmo que precisávamos não julgar antes de experimentar. Não deu. Apesar de agora poder ver filmes enquanto eu estou na academia e Corina foi ótimo, não dá pra ver o final. E o final é que era tudo.

Porque na Sessão da Tarde, a gente pode até dormir durante o meio do filme. Mas acorda para ver a Jéssica sendo resgatada, os filhos sendo salvos, o Daniel San ganhando a luta final. É algo que dá uma força pra encarar o resto das obrigações, ir à padaria, tomar o café da tarde, começar a preparar o jantar, varrer a calçada.



Agora novela não foi feita pra gente dormir. Novela foi feita pra gente acompanhar e se envolver com dramas e nem sempre o final do episódio é feliz, na maioria das vezes ele é tenso e tem que acabar de um jeito que te deixe com vontade de voltar para a frente da telinha na mesma hora no dia seguinte. E quando a novela é chatinha ela se arrasta, fazendo o dia demorar mais pra passar.

É o tipo de coisa que muda toda a dinâmica da vida. Por isso achei nocivo, perigoso, altamente alienante. Uma pessoa que só vê a Globo emenda 5 fucking novelas uma na outra, se a gente incluir Malhação nessa contagem. Pense se não é coisa pra caralho pra dar conta na vida. Haja paciência, disposição. Tempo livre.

Eu que estou nessas, já programando a minha próxima folga num dia de semana, fico preocupado de essa mudança vingar e eles me resolveram exibir "Cheias de Charme". Aí eu to fodido, que vou precisar de um novo horário no emprego, uma nova rotina.