quinta-feira, 16 de maio de 2013

Roteirizada

Tem horas que a vida parece roteirizada. Como se tudo estivesse escrito já em algum lugar. E a impressão que dá é que os dias vão passando e formando um ciclo e tudo é nada se não uma eterna repetição. Como se não houvesse mais espaço para a novidade e para a inovação e tudo que a gente está vivendo é apenas o passado revisitado, remixado.

Tudo isso já aconteceu. O avanço da tecnologia, as transformações e os impactos por ela causadas, a vida em sociedade. Qual é a função do ser humano? Por que estamos aqui? Se eliminarmos deus e essas coisas que as pessoas gostam pra preencher o vazio inerente a cada um e colocarmos tudo num estado "natural" e primitivo, a gente está aqui apenas pra sobreviver.

E só? E ponto? A mim interessa menos a resposta. A pergunta é que é mais interessante dichavar. Porque o corpo é apenas carne. Mas não é somente carne. E não acredito em vida pós-morte, porque já é ruim o suficiente viver aqui.

Daí desconsideramos o marketing, o capitalismo, aquela busca louca, desenfreada e sem critérios por lucro. Num estado bruto precisamos de coisas básicas para existir. Coisas como teto, que não significa  propriedade privada mas alguma proteção contra eventos climáticos. Além de alimentos. Não consigo pensar em mais nada.

Como se o resto fosse apenas luxo, conforto, supérfluo. E como perdemos nosso tempo com o supérfluo. Gastando e juntando e nos apegando a coisas que ocupam espaço e juntam pó. E no fim poderiam ir pro lixo. E mais no fim ainda não precisava nem ter sido criado, porque criar essas coisas envolve gastos de energia, de recursoso naturais, de tempo, enfim. Inventamos necessidades para substituir carências.

Mas já estou começando a brisar. A questão aqui era o cotidiano. De como os dia vivem arrastados seguindo uma ordem estabelecida. Segunda, por exemplo é dia de Tela-Quente e Pondé. Na quarta tem jogo e Antônio Prata.

Antigamente a gente esperava a quinta que era um dia legal por ser pré-sexta. E porque tinha Contardo que a gente adorava, mas que a gente desistiu. Porque ele fala de filmes, peças e livros que, sabe quando a gente vai conseguir ver? Nunca, porque não encaixa nos horários dessa vida, dessa rotina.

E não que a gente leia Pondé. Paramos com isso. Não dá. E a vida tá bem melhor assim. E quando a gente lê a gente se prepara, vai com o espírito leve, preparado pra rir. Tem horas e momentos que a gente tem que fazer escolhas e parar de ficar se cobrando e parar de se sentir mal e culpado por não fazer o que teoricamente devia.

A gente tuita e não obtém resposta. Somos apenas mais um falando em praça pública sem ninguém nos dar ouvido. Conversa de surdos. Não tem havido interação. Não dissecamos assuntos. Comentamos a novela. E só. Daí os memes. Esses virais divertidos que rendem piada e viram ~polêmica.

Essa semana teve um curioso. O dos 100 conto. Achei o texto da menina bem escrito. Não concordo com ela e dou graças a deus de ser gay, viu. Não ter que me preocupar de pagar a conta. Porque não é como se seu fosse rica. Alguém surgiu na timeline com a velha piadinha. "Como ela é roteirista escrevendo mal desse
jeito".

Olha. Tem uns blogs "famosos" com textos bem mal escritos por aí desde sempre. E não é como se o crítico/piadista tivesse recebido o nobel da internet esses dias. Daí outra coisa que irrita e cansa mais que a rotina é a previsibilidade dos comentaristas de internet.

Sempre tem alguém pra discordar, pra falar mal, pra xingar, pra jogar um balde de água fria pra falar em ditadura gay. No sábado, por exemplo, veio a história de que a subprefeitura da Sé apagou um grafite dOsgemeos sei lá como se escreve.

Tuitei algo na linha "Haddad: novo homem pra novo tempo não combina com apagar grafite dOsgemeos". Jean Wyllys me retuitou e recebi milhares alguns RT. Um boy veio perguntar só d'osgemeos. Claro que não né babaca.

A questão não é só Osgemeos. A questão é maior. Eles são a ponta do iceberg. Porque são conceituados, porque são conhecidos, porque aparecem e se divulgam, devem ter um ou outro amigo jornalista que tá em uma ou outra redação por aí. Porque eles são pagos pra fazer isso em outros países e a cidade deles apaga a obra porque não entende o que isso quer dizer?

Xis. Esse boy veio querer discutir que parede tava aí pra ser pintada. Apagou não fica de choro, corre atrás e faz outro. Preguiça. Nem gastei. Tinha mais o que fazer. O fanjo todo é a descrença com a política. De que "promessas de campanha" não se concretizam nas pequenas coisas.

Legal nem sei se foi, porque não sei de verdade avaliar isso. Mas teve o lance da galera do existe amor em sp ter entrado pra secretaria de cultura. Parece novo, mas não sei se é bom. Não sei mesmo. Tem o meu post irônico engraçadinho falando que votei no Haddad porque ele é gato. Mas gente não. A gente quer uma cidade legal, que funcione, que abrace de verdade a diversidade. Em que eu não apanhe na rua por ser viado e que a administração petista não faça o mesmo que a administração Kassab porra.

Uma cidade que não apague o grafite dos gêmeos e nem do grafiteiro fulano de tal zé mané xis. "Ah, tem letra é considerado pichação, apagamos". Não porra. O que são letras em sua essência senão símbolos gráficos? Desenhos que representam sons. E quando é uma mensagem, uma frase, algo poético, estêncil?

Ah. Para.

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