quinta-feira, 7 de março de 2013

Descansando em paz ou morrendo e deixando saudades

Aprendemos ontem que tristeza vira desespero que vira depressão e de repente você morre num apartamento vazio, o que simboliza bem a sua vida. Tristeza mata.

Palavras tão bonitas essas da Raíra num e-mail lindo sobre a morte do Chorão e sobre nossas vidas e nossas crises. Meus amigos já sabem pra mim o que significam essas mortes na vida. É um inferno lidar com essas coisas trabalhando num jornal, trabalhando na foto online.

Dois mortos seguidos então, é apelação. É rezar desesperadamente para que não venha um terceiro. Não é tão nobre assim na rotina de informar. Mas a  morte do Chorão não podia deixar de me abalar. Jornalismo deixa a gente calejado para a morte dos outros. Para a morte das celebridades, dos famosos e importantes.

Nem por isso essas mortes deixam de significar algo. Não é só trabalho a mais. Alguém já disse certa vez que morrer era ridículo. E é. Ainda mais quando a pessoa é jovem, quando não está doente. Quando um erro bobo ou um acidente leva as pessoas para longe daqui. Como o noivo que morreu no dia do casório.

Com tantos planos pela frente. Com tanta vida a ser vivida. Com tanta coisa a se fazer. Tantas experiências por aí. Por que é que as pessoas morrem? Qual é o sentido disso tudo afinal? Ter tudo e não ter nada e daí fim. Sobem os créditos. E o último que sair apaga a luz.

Eu vi as fotos do corpo. Do sangue todo. Do rosto machucado. Preferia não ter visto. Mas estavam no Merlin. Não teve como não ver. Enfim. Penso no desespero. Tento imaginar a loucura que deve ser se ver assim diante da morte ou não ver. O que será que pensamos numa situação dessa? Que tipo de estímulo elétrico-neurológico nosso cérebro exibe quando está desligado enquanto o corpo se debate em convulsão?

E pensar nos vivos. Nas pessoas que estão aqui. E pensar que de repente meus queridos podem se ir. E pensar no passado. Na adolescência. Em uma matéria sobre o Charlie Brown Jr. no Folhateen. Em quantos shows do Charlie Brown eu fui em Caraguá. Quer dizer, a gente já nem gostava mais tanto assim da banda e a programação de verão anda bem ruim, mas sempre tinha um show deles na praia. E agora não terá mais.

E ele nem era um ídolo pra mim. E eu fico pensando nos meus mortos. O ruim da morte é a saudades que a pessoa deixa. Eu lembro do meu avô que se foi. Eu lembro da Claudia Wonder. Ela sim era um ídolo. Sempre quis chamá-la para comer uma pizza. Eu fico pensando em gente que eu nem conheci direito ou com quem tive pouco contato como a Andreia Albertini. Em algum lugar a Claudia tá lá no céu das gay com o Caio Fernando Abreu olhando por mim.

Chavez foi levado pelo câncer. E acho que Bibi Ferreira (vivíssima) disse uma vez que artistas eram imortais. Somos todos um pouco artistas. Mesmo que a nossa arte seja viver. Dia após dia. Tem uma música do Charlie Brown Jr. "Lutar pelo que é meu". "A gente passa a entender melhor a vida quando encontra o verdadeiro amor. Cada escolha, uma renuncia, isso é a vida. Estou lutando pra me recompor", diz na abertura.

É aquela com aquele rerão "O melhor presente Deus me deu. A vida me ensinou a lutar pelo que é meu". Nem sei porque gosto dessa música. Talvez porque fale sobre ter garra. Nem sei se mesmo acredito em Deus. Não, não acredito. A letra é bonita. Só não chega a ser irônico porque às vezes é difícil escutar a nós mesmos, mas Chorão poderia ter ouvido sua própria música antes de todo o surto.

Ele dizia nos shows que a vida era o dia a dia e que ele não desistia. Falar é sempre mais fácil. Mas tendo desistido, ou não, a morte dele acaba sendo sua grande mensagem. Pra gente não desistir. Ainda assim, que no fim todos possamos descansar em paz.

Um comentário:

Diana disse...

Bonito...

Gostei.

Mas não poderia deixar de falar, nisso. As fotos, dele todo cagado, me mostra, um dia?