quinta-feira, 8 de maio de 2014

Mais estranha que a ficção

Tá tudo meio estranho. Parece que o mundo está meio fora do eixo. Mataram a mulher. Todos preocupados com as coisas erradas, ao contrário.

Esses dias eu li uma entrevista do Marcello Novaes para a "Revista da TV" d'"O Globo" por causa do final "Além do Horizonte". Lá ele falava sobre as mudanças de seu personagem ao longo da novela.

Em seu primeiro vilão logo após o Max de "Avenida Brasil", Novaes disse ter composto um personagem mais contido, menos expansivo, sem tantos gestos e trejeitos.

Por conta da classificação etária alguns ajustes tiveram que ser feitos no tal vilão. Ele não poderia usar armas e falar palavrão. Muda de canal.

"Cidade Alerta". Um policial civil matou a namorada no meio da rua. Ele algemou a menina durante uma discussão. Algumas pessoas tentaram intervir, mas ele ameaçava quem chegava com a arma.

Ele atirou na cabeça da moça. Bang. E depois atirou em si. Seis horas da tarde. E mesmo embaçada a imagem era exibida à exaustão pelo "jornalístico". Tá certo?

Fiquei mal, não tive estomago pra continuar vendo o programa esse dia. Porra. De vez em quando preciso acompanhar o "Cidade Alerta" por causa de trabalho. Mas a pauta esse dia não era necessária.

E fiquei pensando se não tem algo muito errado nesse programa ir ao ar essa hora e a novela ter que se adequar pra entrar na classificação x do ministério y. Quem regula isso?

O Gabriel me veio com umas histórias de bandidos fugindo e tomando tiros como se tivesse acontecido no meu bairro, na minha rua, com a irmã dele. Um papo típico de quem assiste esse tipo de programa.

Não me pareceu muito apropriado. Falta ainda amadurecimento pra ele separar o que ele vê na TV com o que acontece do lado de cá da tela.

Uma novela é muito mais atrativa pra uma criança do que um noticiário. Mas há gente que não liga muito pro que é ou não apropriado que as crianças assistam.

Há muito tempo que quadrinhos da turma da Mônica não exibem armas, tipo revólver, em suas páginas. Em desenhos antigos o Pernalonga tomava vários tiros do Eufrazino e se vestia de mulher.

Eu tive uma ou duas arminhas d'água meio clandestinas quando era criança. Minha mãe não achava que arma era brinquedo pra criança. Eu cresci e agora sou mulher tô aqui. Sem traumas e danos.

Tá rolando uma onda politicamente correta falsa e hipócrita? Por que a novela não pode e o "Cidade Alerta" pode?

A novela pelo meno não visa exclusivamente a audiência e o programa usa e abusa de determinadas técnicas a fim de aumentá-la. Os últimos recursos são uns bonecos animados estilo Dollynho de um camburão e da repórter gordinha.

Isso sem falar da repetição infinita das mesmas cenas que acabam gerando um clima de paranoia coletiva em relação a violência urbana entre a classes C e D que já vivem nas perifas nada seguras do país.

Como dosar isso quando um policial mata a namorada e depois se mata em horário nobre? Como dosar isso quando a realidade é mais estranha e bizarra que a ficção?

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